sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Sempre Gabriela

     Dezessete primaveras estampadas no rosto – com sorte, elas não estão tão visíveis assim. O repúdio pela mudança presente em cada célula do meu corpo, por associar esta a algo ruim: mudar o corte de cabelo e ter medo que desaprovem; trocar de colégio e não ver mais os amigos; desapegar-se das bonecas e sentir falta das lembranças que elas trouxeram.
     A trilha sonora da minha vida costumava ser aquela música da Gal Costa que diz: “eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim”. Preferia a homeostase, pois era algo seguro. Mudança é incerteza; é frio na barriga. E inverno nunca foi minha estação do ano favorita. 
    Mas o tempo passa – graças a Deus! E a maturidade chega. E, com ela, novos sonhos, novos ideais. Os mesmos olhos de antigamente, agora enxergam horizontes diferentes. Seu novo corte de cabelo, aquele que achava que não ficaria legal, acaba ficando bonito; no novo colégio, você faz amigos para a vida inteira; e o espaço ocupado pelas bonecas vira uma escrivaninha, onde você pode fazer – e registrar – suas novas lembranças.
     Hoje, a mesmice me entedia. O novo me excita. E uma nova frase me define: eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.